Venho cumprir, meus amigos, a promessa que lhes fiz na semana passada, procurando explicar com a maior clareza possível por que tantas mulheres preferem de longe os homens cafajestes. À maioria dos brasileiros, todavia – e confesso que sou um deles! –, não apraz pagar suas dívidas assim à vista, numa única prestação. Convém amortiza-las com parcelas suaves, preferencialmente sem juros. Peço, portanto, sua licença para parcelar este texto que lhes devo em duas ou três vezes, a fim de não comprometer nem o orçamento do tempo do autor, sempre tão insatisfeito com a pressa dos relógios, nem o do leitor, sempre tão cheio de afazeres da maior importância.
Tendo em conta o ousado título com que batizei este texto, posso já antever algumas leitoras encolerizadas, com dentes e unhas armadas contra o autor deste blog, dirigindo-lhe adjetivos nada gentis acompanhados da acusação de que está a apresentar uma visão falseada e depreciativa do gênero feminino. Peço licença, antes de qualquer coisa, para dizer a tais leitoras que há exceções. Sim, admito que nem toda mulher prefere homens cafajestes. É o caso, por exemplo, da minha mãe, que morre de amores pelo meu pai, homem muito honesto e bem comportadinho, eu garanto. Mas ainda assim gostaria de pedir a minhas caras leitoras que não se apressassem em se considerar exceções a essa verdade que é válida para a maioria das mulheres. Sei – ou melhor, imagino – quanto pode ser difícil admitir certas verdades a respeito de si, mas não há dúvidas de que, ao menos neste caso, será mais saudável e proveitoso do que não faze-lo. É tendo em vista unicamente sem bem-estar psíquico que dou esse conselho. Peço, portanto, que analisem a questão a partir de uma perspectiva tão neutra quanto possível. Guardem momentaneamente os adjetivos indelicados que me dirigem, o ódio visceral, a vontade de fechar para nunca mais tornar a abrir a página desse blog e ponham-se a analisar junto comigo este tema com um rigor quase científico. Esqueçam o que dizem esses machistazinhos levianos quando sustentam que as mulheres não são capazes de rigor lógico, científico, e provem-lhes com sua leitura analítica precisamente o contrário. E então, após uma leitura atenta, após um exame minucioso da questão, vocês finalmente poderão chegar à conclusão de que estou certo, desde que me tenham entendido.
Não me interessa aqui demonstrar argumentativamente essa predileção feminina por tipos cafajestes: ela é inegável; e soa deselegante tentar confirmar por meio de argüições aquilo que a própria experiência cotidiana vive a mostrar a cada um de nós. O óbvio ululante não apenas dispensa argumentações, condena-as. Não obstante, há quem se recuse a enxerga-lo; e o que poderemos fazer por tais pessoas senão esperar que o processo de amadurecimento lhes aguce o senso de observação?
O que me interessa é tentar compreender as razões desse fato evidente, o porquê dessa predileção que aparentemente contraria tudo quanto mereça o rótulo de bom senso. Gostaria de me valer, para tanto, do método dialético e examinar uma a uma as opiniões existentes a esse respeito antes de lhes apresentar a minha. Cheguei mesmo a coletar certo repertório de opiniões sobre o assunto, mas qual não foi meu espanto ao constatar que a maioria delas é desinteressante, indigna tanto da minha análise quanto da atenção do leitor. Duas delas, contudo, fazem exceção, e sobre essas sim, vale a pena se deter.
A primeira afirma que não é que os homens cafajestes se tornem mais atraentes, mas, ao contrário, que os homens atraentes é que tendem a se tornar cafajestes, uma vez que lhes é muito difícil não ceder às tentações poligâmicas que sempre se lhes insinuam. Ou seja, com relação a estes dois fenômenos que não raro aparecem conjugados – ser atraente e ser cafajeste –, aquele é que é causa deste, e não o contrário.
A segunda opinião, mais radical, diz o seguinte: na realidade, todos os homens são cafajestes por natureza; aqueles, contudo, cuja habilidade para seduzir só é suficiente para conquistar uma única mulher são tidos na conta de sujeitos fiéis e levam uma vidinha não condizente com sua natureza masculina; já aqueles mais hábeis, capazes de conquistar várias, tornam-se cafajestes de fato, efetivando assim aquilo que sempre foram potencialmente. Estariam a realizar, no fundo, aquilo de que todo homem gostaria, mas, como nem todos o conseguem, os fracassados mais frustrados se empenham em se vingar dos bem-sucedidos, rotulando-lhes de indecentes, imorais, e condenando tal conduta segundo os preceitos de uma moral oriunda do ressentimento.
Considero essas opiniões apenas parcialmente verdadeiras, mas não quero lhes dizer em que medida. Deixo a encargo do leitor e da leitora julga-las com maior rigor; não gostaria de priva-los neste ponto do privilégio e do prazer de pensar com os próprios botões. Digo apenas que essas idéias têm o mérito de nos fazer atentar para o fato de que ser cafajeste não está ao alcance de qualquer um; requer certos dotes naturais, certa vocação. Não basta querer ser cafajeste e – plim! – magicamente tornar-se mais atraente. Todavia – e este é o ponto de que as opiniões apresentadas não dão conta –, é também verdadeiro que os homens com talento suficiente para a cafajestagem tornam-se ainda mais atraentes aos olhos das mulheres quando assumem essa condição. E é esse fenômeno curioso que pretendo analisar detidamente na semana que vem, quando pretendo saldar a segunda parte da minha dívida. Verei se não atraso a segunda prestação desse texto.